terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Explicando a crise econômica

Espero que esteja tudo bem com vocês.

As aulas de MBA estão servindo para alguma coisa. Eis que vou tentar explicar de forma bastante simples a atual crise econômica mundial.

Imaginemos uma pequena cidade do interior paulista. Nesta cidade há basicamente plantação de café orgânico com principal atividade econômica.

Na cidade o Seu Joaquim possui uma pequena mercearia onde vende seus produtos aos pequenos produtores de café orgânico da cidade. Nos últimos anos a produção de café melhorou muito devido ao bom clima da região e a grande demanda por produtos orgânicos, principalmente na Europa, o que fez os produtores lucrarem bastante.

As plantações são pequenas e tocadas de maneira familiar, portanto praticamente não há assalariados nesta cidade, tendo em vista que todos trabalham em suas propriedades rurais.

Seu Joaquim da mercearia vem tendo um grande crescimento na receita de sua mercearia impulsionado, pelo crescimento do preço e da produção do café orgânico local.

Nesta mesma cidade há uma agência de um grande banco com influência mundial. Esta agência conta com Miguel, um notável gerente que tenta alavancar sua carreira dentro do banco com um produto diferenciado. Miguel propõe a Joaquim que invista em sua mercearia, já que a demanda por produtos de consumo mais sofisticados estava crescendo com a produção local de café.

Seu Joaquim seguiu os conselhos de Miguel e tomou um empréstimo bancário a juros baixos para ampliar seu negócio que passou de uma pequena mercearia par um mini-mercado, com diversos produtos industrializados de alimentos, higiene e limpeza. O método de venda do mini-mercado de Joaquim continuou sendo a boa e velha caderneta, onde Joaquim anotava as compras de seus fregueses que, por sua vez, pagavam quando vendiam sua produção, o que ocorria duas vezes por ano.

Mesmo com este processo de venda, o mini-mercado de Joaquim continuou crescendo, pois a produção de café orgânico crescia vertiginosamente, graças ao crescimento da economia mundial e a estabilidade econômica e cambial.

Miguel percebeu que ali havia um grande produto financeiro e propôs a Joaquim investir mais em seu mini-mercado para transformá-lo em um hiper-mercado, com produtos diversos como eletrônicos, eletrodomésticos, vestuários, etc. Para tanto Miguel, que havia feito MBA na FGV, para embasar a nova dívida que Joaquim faria com seu banco, criou um novo título prefixado baseado na caderneta que Joaquim mantinha com seus honestos e pontuais fregueses. A caderneta de Joaquim passou a lastrear a dívida com o banco de Miguel.

Miguel conseguiu aprovação de sua diretoria para realizar o novo empréstimo a Joaquim condicionado a caderneta dos fregueses da ex-mercearia. O novo título prefixado baseado na caderneta dos fregueses de Joaquim foi classificado como sendo de baixo risco e bom retorno financeiro, o que atraiu muitos investidores que passaram a aplicar seu dinheiro nestes títulos. O sucesso foi tão grande que Miguel foi promovido a diretor de crédito do banco. Os títulos, devido a alta procura, passaram a serem altamente valorizados, ao ponto de, uma anotação na caderneta de uma pequena compra mensal de R$ 200,00 em pouco tempo era transformada em título valendo mais de R$ 1.000,00!

Esta hiper-valorização atraiu mais investidores sedentos pela alta valorização e pela “oportunidade” de fazer muito dinheiro sem produzir absolutamente nada, apenas especulando sobre a dívida dos pequenos produtores de café orgânico da nossa pequena cidade do inetrior.

Um belo dia de outono, a próspera região foi acometida por uma forte geada, bem as vésperas da que seria a melhor colheita de café orgânico deste de a primeira muda plantada naquela região. Todo o café foi perdido, os produtores tiveram grandes prejuízos e não conseguiam mais honrar suas dívidas com a caderneta do hiper-mercado do Joaquim, levando o mesmo a falência.

No mercado financeiro os títulos da caderneta que chegaram a valer mais R$1.000,00 agora não valiam nem R$10,00. O banco do Miguel faliu, levando um bando de investidores junto. O mercado financeiro entrou em colapso, a economia mundial encolheu, tudo graças ao calote a caderneta da ex-mercearia do Joaquim.

É claro que nas devidas proporções e mercados, foi assim que esta crise se deu. Apenas temos que substituir a caderneta do Joaquim pelo crédito imobiliário nos EUA. Como das outras vezes que houve crises econômicas, a ganância do ser humano sempre esteve por trás desta estupidez. Ou seja, está não é a primeira e não será a última crise econômica. É uma pena que as conseqüências vão do desemprego à fome de pessoas que não contribuem para que isso aconteça.

Até mais.

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